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Da visita dos sonhos



O que fazer quando os sonhos resolvem, todos juntos, tomar conta da sua sala sem pedir permissão? Quando aparecem na madrugada dos teus dias de chuva com a energia de sol viçoso? 

De fato, esperam de você o convite para um cafezinho, um dedo de prosa... fixam-se ali...aguardam ansiosos seus momentos.

Tem sonhos pra todo gosto, os vestidos com letras – estes são os mais confusos – dizem tanto quando se calam. São misturas que falam um idioma já desconhecido, mas reconhecido.

Alguns cantam com voz de embaladeira de sono. Guardam canções que fazem lembrar vinhos, casas, ônibus, invernos. Há os que ao pé do fogão provam alimentos jamais experimentados, momentos desejosos em se tornarem realidade pagã.

Por mais que pareçam felizes, mostram-se nervosos. Trazem naquele espaço uma necessidade incomum de alteração, àquele espaço já não os cabem. Já estão crescidos.

Um grita: “_ Eu quero o assento principal, preciso ser chegada.”

Eu apenas ouço. Apenas olho. Eu, ainda, nada sei.
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Das cartas que não mandei



Z,


Estava pensando como as coisas são engraçadas, o quanto somos prisioneiros de nós mesmos. Até ontem eu lembro que você odiava tecnologias, que você se alimentava de poesias e músicas...e eu achava legal...era bacaninha ver sair dos teus dedos ( mesmo que na virtualidade ) palavras que garantiam sabores e cheiros. Na hora da necessidade eram as tuas palavras postadas que alimentavam dias. Em cada parágrafo a gente caminhava entre janeiros e setembros sem perceber. E era bom. Digo era pelo simples fato de as coisas – sem grifos – tomarem proporções à tempo desconhecidas. É que você odiava tecnologia, Z. E que bom que as opiniões mudam. O problema é quando o mudar de opinião sugere, na desordem dos nossos dias, mudança do status de pessoa.

Sabe, quando vejo você na Rede fico imaginando o que te alimenta agora. É como se esculpisse a minha frente uma outra criatura humana, alguém que imaginava conhecido. Sabe aquele sujeito que você coloca na caixinha de lápis de cor e tem absoluta certeza que ele seria capaz de pintar um arco-íris inteiro sozinho? Sabe alguém que você compreendia sensível e inteligente demais para saber quantos calos povoa o pé de uma devota em procissão de interior? Pois, era em você que eu depositava estas certezas. Era...e mais uma vez repito era sem medo de erros.

Hoje sou eu quem temo essa virtualidade, sou eu que me permiti desacreditar no Outro a partir dela.  Não se pode pensar que o outro que te abraça seja um e o outro que fala contigo através da película fria do computador seja completamente diferente. É como se você nunca fosse um texto capaz de ser traduzido e, portanto, compreendido. Isso não é legal. Pessoas são textos e por mais difíceis que sejam precisam de tradutores. Olha Z., estudei muito para aprender traduzir pessoas e...percebi em você leitura vã.

A palavra precisa SER respeito. Precisa SER vida. É a partir dela que somos traduzidos e por ela, às vezes, modelados. Sabe aquele livro que se mostra na bandeja querendo ser devorado? Assim somos nós … e não é uma ato de sedução pagã, longe disso, é um movimento de conquista. Precisamos ser desejados na mesma medida que somos desejosos e desejantes. Não é uma escolha para seduzir ou encantar. No ato de sedução e encantamento há sempre uma porção que não é nossa, existe sempre um eu de quem vê sobre nós. Precisamos que outros traduzam-nos porque nos mostramos e não porque seduzimos. O simples e corajoso ato de mostrar-nos já diz muito de nós.

O ruim Z. é que o ato de mostrar nos revela. E eu confesso que preferia te ver palavra escondida entre cantos e poesias que te traduzir um outro sujeito humano através da virtualidade.

Mas nem estou tão triste assim com você. Deixa eu te contar uma coisa. Estou feliz. Estou gostando muito de um alguém. E foi através da virtualidade que comecei a traduzir outros textos – claro que com outro contexto, não como o nosso. O nosso era hospede apenas na casa da amizade. Agora não, agora garimpo coração, agora vasculho joia rara. E não estou seduzindo...também não estou me mostrando. Essa tradução vai além. Agora sou alma noutro corpo e isso é bem mais que se mostrar.

Amores pra você, Z.

Fica bem.

Junior Maia







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A falsa democracia

Saramago sempre teve um lugar especial em minha sala.
...e sempre ajudou na definição de conceitos essenciais em minha vida.
Veja:


...e já não é preciso escrever quando todas as palavras foram encontradas.
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Esqueçam de garimpar, permitam que nos tornemos joias

Sinceramente, não busco expressar o sentimento de agora como revolta ou rancor, como desmerecimento ou imposição de tantos outros que por temerem o jovem na política tentam dizer o que até para nós é humanamente indizível. Quem me conhece sabe: Não gosto que nos classifiquem. Não gosto que classifiquem a juventude pelo imaginário social muitas vezes equivocado. Não suporto que escolham em qual parte da estante dos seus conceitos devemos nos alojar. Não é tão fácil assim, tão simples. Aliás, ninguém é simples, as pessoas não são terceirizadas. Muito menos nós, jovens.
Os estados de pertença do jovem na política não é tarefa pagã, órfã. É movimento em constante alteração. Isso! As mãos calejadas dos cabos das bandeiras nos movimentos estudantis, nas marchas por liberdade de expressão ou nos #foraTodoMundo da vida são as mesmas que apontam o dedo para a possibilidade de um futuro mais ético onde o respeito ao que comumente chamamos de povo seja realidade.
As mesmas vozes afônicas e nunca cansadas nas salas de aulas, quadras e ruas são as mesmas que fizeram coro forte no tsunami democrático contra a ditadura e a favor do impeachment de Collor.
São estas mãos de bandeiras e vozes afônicas que riscam o novo tempo e o faz histórico de fato. É essa juventude inconformada com os modelos maquiavelicamente desenhados pela política contemporânea que grifa e assinala um novo tempo.
Um tempo menos determinista e mais consensual, menos ditador e mais democrático, menos dominado pelo partidarismo fugaz e mais ajustado a programas governamentais onde imperem o respeito ao sujeito humano.
O movimento histórico é outro e os partidos políticos precisam dessa compreensão. Não basta o discurso das portas abertas, a falácia em apoio de que negros e brancos, índios e pardos, pobres e ricos, gays e não gays, periféricos e não periféricos estão bem acolhidos. Ao jovem não importa o acolhimento de pessoas, de indivíduos. Ao jovem deste tempo importa que os interesses do grupo social estejam firmados nas pautas e agendas dos partidos, que as políticas públicas para a juventude existam e possam ressoar como bom cântico. O jovem de hoje não quer apenas lugar, lugar ele consegue em qualquer esfera pela qualidade das suas posturas; o jovem quer ver-se representado. E ver-se representado não é uma opção, é uma necessidade. Não é uma proposta para gostar ou aceitar, é uma imposição temporal.
Entre o gostar e o aceitar existe uma distância muito grande. Posso dizer que aceito muita coisa que não gosto e gosto de muita coisa que não aceito. Incongruência? Contradição? Devaneio? Não. Nada disso. Subjetividades. Decisões pessoais e decisões pessoais muitas vezes ferem o princípio coletivo que alimenta, marca e demarca o discurso da juventude.
É fundamental que os partidos políticos reformulem o conceito de juventude ou operem para a compreensão deste grupo na atualidade. Somos tantos outros em sermos nós que, penso, entender o que somos seja a busca maior. Essa juventude é formada pela queda de tantos outros (pais, professores, vizinhos...) e, portanto, assumem o compromisso de ajudar a cicatrizar histórias marcadas pela leviana participação dos muitos que até hoje atuam nas decisões políticas deste país.
Portanto, não nos classifiquem como âncora porque temos toda a dimensão do que é ser mar. Esqueçam de garimpar. Deixem que nos tornemos joias. Não vai lhes acrescentar nada escolher o nosso local da estante. Não estamos em canto algum a não ser no nítido movimento que chamamos de juventude.
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10 contribuições para mobilizadores das redes sociais

As redes sociais alcançaram escala global nos últimos anos. O Orkut, desde a sua criação ganhou popularidade no Brasil. O Facebook, criado por Mark Zuckerberg, ex-estudante da universidade de Harvard, ocupa a quinta posição no ranking dos sites mais acessados na atualidade e o Twitter, criado em 2006, se tornou uma ferramenta popular de comunicação recebendo em média 140 milhões de mensagens diariamente.
O recorte acima aponta para a responsabilidade e cuidado daqueles que se aventuram na utilização das mídias socais enquanto instrumento sociail de mobilização de conceitos e ideologias. Como sugere Pierre Lévy, as redes além de revelar nossas opiniões nos desvelam ao outro permitindo que os sujeitos nos conheçam e/ou reconheçam a partir dos sentidos e significados grafados, apresentados em nosso discurso.
Assim, é importante compreender que mesmo estando num espaço virtual e muitas vezes distante dos receptores da mensagem, a compreensão de quem decifra a informação será real. As tecnologias apresentam a cada um de nós a possibilidade de vivenciar mais uma sociedade e, assim sendo, os mesmos critérios e acordo sociais deverão ser levados em consideração nas redes.
Até poucos anos se discutia a globalização a partir das relações econômicas, hoje, a discussão enfrenta além da mobilidade do capital as possibilidades de mobilidades tecnológicas. As tecnologias têm favorecido a circulação humana para além do físico. A circulabilidade de ideias, informações, conceitos a partir do ambiente doméstico é realidade na contemporaneidade. Da casa de cada indivíduo é possível consumir, trabalhar, votar, participar. As redes sociais atuam como “uma outra” referencia de ação social tão importante quanto os instrumentos de comunicação tradicionais (encontros, seminários, comícios, palestras, etc.), elas inauguram novas formas de existir e de participar enquanto cidadãos. Conforme Lévy, as tecnologias compõem uma nova forma de articulação entre os sujeitos dentro de uma esfera pública também nova.
Como o jovem pode mobilizar nessa nova esfera pública? Quais critérios podem ser adotados para dar empoderamento ao discurso e agregar valor à mediação das opiniões? Estas duas questões foram apresentadas a mim num encontro de formação realizado na Fundação Visconde de Cairú, em Salvador, no ano passado. Na oportunidade apresentei algumas possibilidades que, pela dinamicidade das relações, podem ser transformadas. Vejamos:
 
  1. Mobilizar em redes sociais não é tarefa fácil. É preciso entender que não se trata de falar para qualquer sujeito, portanto é fundamental definir os objetivos do perfil/profile e o foco do discurso. Por exemplo, você pode escolher por discutir sobre educação, saúde, política, movimento estudantil, esporte ou atualidades, mas nunca sendo generalista. O profile não é um liquidificador de ideias e quem segue precisa compreender o seu objetivo. Nunca fale de tudo, siga o objetivo;
  2. As redes sociais atuam na configuração de “uma outra sociedade”, sendo assim, tome os mesmos cuidados usados para sair às ruas por exemplo. Verifique qual a sua roupagem, como está se mostrando, quais cores lhe identificam. Observe como se configura a sua “cidade virtual” e seja um diferencial positivo nela. Então, cuidado na seleção das imagens, das palavras, dos links...
  3. Sempre responda as mensagens. Mobilizar implica respeito ao outro que compartilha o mesmo espaço social. Quanto mais próximo você estiver de quem lhe segue, maior o potencial de aceitação dos conceitos apresentados. Assim, não esqueça as saudações e elogios quando necessários;
  4. Siga todos que lhe seguem. Maior demonstração de respeito aos sujeitos interessados por tuas ideias e um mecanismo interessante para controle do que eles constroem sobre você;
  5. Muitos mobilizadores confundem mobilização com apresentação de informações. Equívoco primário. Mobilizar é chamar o outro para o objetivo. É fundamental que o contato se passe pelo crivo do sentir. Quem mobiliza em redes não pode esquecer que só o espaço é virtual, as relações permanecem sendo humanas e os sentimentos reais. É se aproximando do sujeito histórico que o conquistamos para as propostas, não apenas apresentando informações das propostas;
  6. Estabeleça tempo para a apresentação e mediação das informações. O excesso de mensagens informativas afasta o seguidor e não garante os objetivos. A didática da mobilização impera os mesmos códigos do discurso social. Não acredito que você gostaria de ter como amigo uma pessoa que a toda hora lhe apresentasse um assunto. É preciso tempo para que o seguidor se aproprie da informação...enquanto isso aproveite para ampliar o vínculo de contato com os novos seguidores;
  7. Um dos equívocos dos jovens que usam as mídias globais para favorecer algum tipo de mobilização está na crença de que bastou postar o dado que os seguidores farão a leitura. Engano. É importante observar o horário que a maioria dos seguidores acessa as redes e motivá-los para a leitura dos textos bem antes da publicação;
  8.  Promova. Mobilizar é, pelo crivo do sensível, mudar de um lugar para outro. Faça gincanas, apresente-se por videoconferências, organize encontros setoriais, crie enquetes;
  9. Fale sempre a verdade e seja, na prática, exemplo do discurso mobilizado. Lembre-se que você faz comunicação nas redes sociais com o usuário que está fiscalizando o tempo todo, o que é importante para a qualificação e aprimoramento das ações. Estamos na geração que não faz das redes sociais modismo, mas que as utilizam enquanto comportamento. A geração Y é a geração que compara e seleciona informações;
  10. Crie parcerias. É impossível mobilizar sozinho. É imperioso estabelecer trocas com outros usuários nas redes. Produza conteúdos para os parceiros e solicite informações gratuitas, receba colaborativamente conteúdo dos outros usuários

     Lembre-se: Ao utilizar as redes sociais você já não está mais em casa!