4 de junho de 2011

Esqueçam de garimpar, permitam que nos tornemos joias

Sinceramente, não busco expressar o sentimento de agora como revolta ou rancor, como desmerecimento ou imposição de tantos outros que por temerem o jovem na política tentam dizer o que até para nós é humanamente indizível. Quem me conhece sabe: Não gosto que nos classifiquem. Não gosto que classifiquem a juventude pelo imaginário social muitas vezes equivocado. Não suporto que escolham em qual parte da estante dos seus conceitos devemos nos alojar. Não é tão fácil assim, tão simples. Aliás, ninguém é simples, as pessoas não são terceirizadas. Muito menos nós, jovens.
Os estados de pertença do jovem na política não é tarefa pagã, órfã. É movimento em constante alteração. Isso! As mãos calejadas dos cabos das bandeiras nos movimentos estudantis, nas marchas por liberdade de expressão ou nos #foraTodoMundo da vida são as mesmas que apontam o dedo para a possibilidade de um futuro mais ético onde o respeito ao que comumente chamamos de povo seja realidade.
As mesmas vozes afônicas e nunca cansadas nas salas de aulas, quadras e ruas são as mesmas que fizeram coro forte no tsunami democrático contra a ditadura e a favor do impeachment de Collor.
São estas mãos de bandeiras e vozes afônicas que riscam o novo tempo e o faz histórico de fato. É essa juventude inconformada com os modelos maquiavelicamente desenhados pela política contemporânea que grifa e assinala um novo tempo.
Um tempo menos determinista e mais consensual, menos ditador e mais democrático, menos dominado pelo partidarismo fugaz e mais ajustado a programas governamentais onde imperem o respeito ao sujeito humano.
O movimento histórico é outro e os partidos políticos precisam dessa compreensão. Não basta o discurso das portas abertas, a falácia em apoio de que negros e brancos, índios e pardos, pobres e ricos, gays e não gays, periféricos e não periféricos estão bem acolhidos. Ao jovem não importa o acolhimento de pessoas, de indivíduos. Ao jovem deste tempo importa que os interesses do grupo social estejam firmados nas pautas e agendas dos partidos, que as políticas públicas para a juventude existam e possam ressoar como bom cântico. O jovem de hoje não quer apenas lugar, lugar ele consegue em qualquer esfera pela qualidade das suas posturas; o jovem quer ver-se representado. E ver-se representado não é uma opção, é uma necessidade. Não é uma proposta para gostar ou aceitar, é uma imposição temporal.
Entre o gostar e o aceitar existe uma distância muito grande. Posso dizer que aceito muita coisa que não gosto e gosto de muita coisa que não aceito. Incongruência? Contradição? Devaneio? Não. Nada disso. Subjetividades. Decisões pessoais e decisões pessoais muitas vezes ferem o princípio coletivo que alimenta, marca e demarca o discurso da juventude.
É fundamental que os partidos políticos reformulem o conceito de juventude ou operem para a compreensão deste grupo na atualidade. Somos tantos outros em sermos nós que, penso, entender o que somos seja a busca maior. Essa juventude é formada pela queda de tantos outros (pais, professores, vizinhos...) e, portanto, assumem o compromisso de ajudar a cicatrizar histórias marcadas pela leviana participação dos muitos que até hoje atuam nas decisões políticas deste país.
Portanto, não nos classifiquem como âncora porque temos toda a dimensão do que é ser mar. Esqueçam de garimpar. Deixem que nos tornemos joias. Não vai lhes acrescentar nada escolher o nosso local da estante. Não estamos em canto algum a não ser no nítido movimento que chamamos de juventude.

1 comentários:

Cal Pinheiro disse...

"...não nos classifiquem como âncora porque temos toda a dimensão do que é ser mar."

Junior, meu amigo, você tá que tá, hein? Até me emocionei com a conclusão.

Falar mais o quê?

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